quarta-feira, 30 de novembro de 2011

(sem título)

a casa tantas vezes vista
a sala tantas vezes revista
os gatos tantas vezes nascidos
o filho tantas vezes ido
os quadros tantas vezes postos
os sentimentos tantas vezes opostos
os dias tantas vezes renascidos
a rua tantas vezes nua
a lua tantas vezes tua
as festas tantas vezes nesta
a gente tantas vezes longe
e a sensação gritante
de que agora
é apenas
o que não 
se encontra
onde...

da série: é preciso ter coragem de ser feliz (autocitação - risos)

em dias de nuvens, as luzinhas vêm e vão, oscilando entre ficar e sumir. mas de tanto vê-las, e sabê-las, a gente, como na vida, na falta delas, as imagina - pra poder continuar a iluminar os estados d'alma.
(retirado do facebook - meu, claro)

terça-feira, 29 de novembro de 2011

biscoito de chocolate

quando eu era pequena, e morava na casa das tias, éramos muit@s prim@s criad@s por elas. e cada tia tinha, por assim dizer, um sobrinho ou sobrinha preferid@. 
lembro que de uma tia, o preferido era um primo de quem eu gostava muito. do que eu não gostava era do fato de que só ele pudesse ganhar biscoito de chocolate, por ser seu preferido. digamos que eu sentia inveja dele. não sei se do biscoito de chocolate ou se do carinho de que ele era alvo.
o tempo passou. e eu, que me achava um nada na infância, me encontro depois com o primo, numa situação, ele, tão delicada, que se pudesse, eu teria lhe dado muito mais biscoitos de chocolate do que minha tia a vida toda lhe deu...
hoje, cada vez que sinto, ou quero sentir, inveja de algo ou de alguém, lembro da história do primo. não custa a gente não esquecer o quanto se é agraciada pela vida, mesmo quando não julga ser.

da série: é preciso ter coragem de ser feliz (citação de osho)

"(...) o amor funciona como um espelho. é muito difícil conhecer a si mesmo a menos que você tenha visto sua face nos olhos de alguém que te ama. da mesma forma que você tem que olhar num espelho para ver sua face física, você tem que olhar no espelho do amor para ver sua face espiritual...
nos momentos de profundo amor surgem vislumbres da face original, embora esses vislumbres estejam vindo como reflexo. assim como numa noite de lua cheia você vê a lua refletida no lago tranquilo, o amor também funciona como um lago. a lua refletida no lago é o começo da procura pela lua verdadeira.
(...)
o amor te dá vislumbres de meditação, reflexos da lua no lago - embora sejam reflexos, e não a verdade. por isso o amor nunca pode te safisfazer. na verdade, o amor te fará mais consciente e mais consciente do que é possível, mas não te entregará os bens. ele te frustrará; e apenas em profunda frustração surge a possibilidade de retornar para seu próprio ser." 
 
(citação de osho retirada do livro "o caminho do mago - uma visão contemporânea do tarot", de veet vivarta)

a lei da graça

descobri, não por "acaso", que como existe a lei do karma, existe a lei da graça.
dei risada, fiquei feliz!
então aquilo que eu pensava não era viagem
a graça é, mais do que graça
mesmo uma lei!
hei de me pôr sob a sua influência! 

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

o fim do amor

coisa mais difícil é decretar o fim do amor.
mas eu me resolvi: ponho um fim nisso que se tornou uma dor.
e aí não é mais coisa de esperar que os ventos mudem de rumo:
é decisão tomada.
por mais que a amada seja amada,
o amor agora terá um outro prumo.
e sei o quanto de horror
tem em se decretar do amor
o fim.
mas é melhor assim.

a hora das luzinhas

todo dia, entre 13 e 15 horas aproximadamente, a minha sala fica plena de luz!
melhor: de luzinhas - reflexos do sol que bate no cristal e se espalha em centenas de pontos coloridos que ficam brincando no espaço ao sabor do vento.
é a hora em que eu, se não estiver sendo, me lembro de ser feliz.
algo assim como o sino funciona para os budistas no que diz respeito à atenção plena e a se conectar com o momento presente, através da respiração.
seja qual for o meu estado de espírito, quando vejo as luzinhas, ele se ilumina.
é como a presença da graça, ou do deus/deusa, ou do numinoso - ou simplesmente disso: do colorido, da leveza, dos possíveis
ter esse tipo de alerta todos os dias é de uma riqueza sem fim.
é como se a vida, num ato de extrema generosidade, o tempo todo nos dissesse pra dizer sim à própria vida.

domingo, 27 de novembro de 2011

busca

ando à procura de deus.
ou da deusa.
se, como diz jung, é melhor ter deus no lugar do que o estômago,
é bom não botar nada nem ninguém nesse lugar.
que eu possa fluir
na direção de mim
é o ponto de partida.
o de chegada...
ah, pra que pensar no ponto de chegada?

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

para além do temor

eu hoje vi as estrelas
no frescor da madrugada.
são lindas, assim, as estrelas,
quando se olha pra elas
não se pensando em mais nada.
eu hoje vi as estrelas
e, depois, pensando no amor
que eu um dia julguei perder,
compreendi pela dor que
ninguém nunca perde um amor:
amor é para além do temor.
e isso me fez tanto bem
que eu me senti para além
das paredes tempo/espaço:
o meu destino sou eu quem faço -
e se amor comigo eu trago,
nada nem ninguém dele pode dizer: eu desfaço.

a história de foca e beluga

Era uma vez uma foca que amava muito uma beluga. A foca era preta, lisa e feliz. A beluga era branca, grande e aconchegante. Nunca se soube bem porque uma foca havia de gostar de uma baleia branca. Mas a verdade é que as duas viveram uma linda história de amor. Um amor tão grande que todo o oceano se encantou. E um dia, quando por alguma razão veio o mau tempo e tudo parece que se acabou, alguma coisa aconteceu que mesmo assim o amor continuou. A foca ficou triste de um lado, a beluga ocupada de outro, mas o que de mais belo havia continuou intocado. Porque o amor, quando existe, nele não se mexe. Pode é tudo o mais virar ao avesso, pode o tempo ser travesso, mas o amor, quando acontece, esse nunca mais de si se esquece.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

o caminho de casa


o caminho de casa
nem sempre é fácil de encontrar.
às vezes nos embrenhamos por veredas tão íngremes
que custa muito localizar novamente no mapa
as coordenadas que possam nos orientar.
mas o caminho está lá.
e a casa também.
resta tão somente saber que é possível voltar.
e que casa é o nome que se dá a tudo aquilo que nos abriga
depois do percurso que nos permite chegar
em nós mesmas.
o caminho de casa é agora e aqui.
a despeito de.

porque tudo tem um fim

tem um sujeito muito doido que mora dentro de mim.
não sei que nome lhe dar.
sei que é “um” porque fosse “uma” seria mais fácil lidar.
sei também que é secular, pois em muito se assemelha
ao que muita gente viveu em épocas não parelhas.
sei até que não é só “um”:
tem formas bem variadas,
umas nada tendo a ver com nada
a não ser com o seu desejo.
o seu desejo, eu digo,
que não é o meu desejo.
é o desejo de um sujeito
que pensa bem do seu jeito
e que faz uso de mim.
o que ele ainda não sabe
é que eu dele sei também.
e que qualquer dia desses
acaba o reinado dele
porque tudo tem um fim.

da série amig@s - vizinhos de alma


Ter vizinhos é um sine qua non, se não se é um ermitão – e, ademais, numa cidade como Fortaleza.
Agora ter bons vizinhos é uma graça. Às vezes não se chega a ela sem uma longa trajetória. Vizinhos vêm, vizinhos vão – até que um dia chegam aqueles ou aquelas com os quais não só se troca uma xícara de açúcar ou se pede pra guardar uma chave pra entregar a quem vai chegar, mas com quem você se entende no que diz respeito aos assuntos da alma.
Assuntos da alma não são pra qualquer um/a.
Não que todo mundo não os tenha, mas pouc@s se dispõem a encará-los.
Dá trabalho.
Às vezes dói.
E muita gente anda surda ao que grita a sua alma, o seu inconsciente, enfim...
Mas eu falava de vizinh@s.
Se pudesse, a tod@s desejaria como presente de natal ou de ano novo: tenha bons vizinhos!
Vizinhos com quem se possa, sim, trocar uma xícara de açúcar e pedir pra guardar uma chave, mas que não se espantam porque você tem muitos gatos e gatas e, um dia, chegam com um cachorro – que late, é verdade, mas nem isso nos incomoda, porque ela é uma pequenina linda, chamada Saôre, que eu chamo de Sasá, e que quando eles saem, e ela foge, vem se refugiar aqui, no meio da casinha e dos gatinhos... Vizinhos com quem se possa jogar conversa fora, conversa dentro, fazer planos ou livros, ir à praia ou ao cinema, rir dos meninos (de idade e dos que ainda teimam em ser...), fazer festa (mesmo sem planejar), reunir, almoçar, jantar, fazer bazar, até passar um tempo sem se falar, porque cada um tem a sua vida e tem horas que se vai fazer outras coisas – mas sem mais esperar, de novo ver, de novo encontrar, de novo ser feliz. Vizinhos com quem simplesmente estar é já motivo pra ser feliz.
Nunca antes eu tinha tido vizinhos assim. Já tinha tido bons vizinhos – uma vizinha, até, que se tornou amiga e nos visita até hoje. Mas vizinhos de alma são outra coisa.
Por isso acho que a vida é sempre muito generosa.
Tem um pensamento, sufi eu acho, que diz que deus não fecha uma porta se não for pra abrir pelo menos 10 janelas.
Eu estou com as minhas todas abertas!
 (pro bruno, renatinha, biel e benjamin)


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

paisagem de dentro – ou: não é pra inglês ver...


o caminho das pedras
(e das flores)
é pessoal e intransferível.
muito embora se possa
aprender dos passos de outrem,
cada ser tem que trilhar os seus.
é duro o percurso,
mas pode ser belo -
e há trilhas que dão em vales tão maravilhosos
que a gente até esquece
os incríveis penhascos
que ainda há por escalar...

(citação)


“(...) Nós, agentes disfarçados e distribuídos pelas funções menos reveladoras, nós às vezes nos reconhecemos. A um certo modo de olhar, a um jeito de dar a mão, nós nos reconhecemos e a isto chamamos de amor. E então não é mais necessário o disfarce, embora não se fale, também não se mente, embora não se diga a verdade, também não é mais necessário dissimular. Amor (...) é quando nos é concedido participar um pouco mais. Poucos querem o amor (...), porque o amor é a grande desilusão de tudo o mais. E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que se voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão daquilo que se pensava que era amor. E não é prêmio, por isso não envaidece. Amor não é prêmio, é uma condição concedida exclusivamente para aqueles que sem ele corromperiam a vida[1] com a dor pessoal. Isso não faz do amor uma exceção honrosa; ele é exatamente concedido aos maus agentes, aqueles que atrapalhariam tudo se não lhes fosse permitido adivinhar vagamente.”

Clarice Lispector

In: A Descoberta do Mundo. “Atualidade do ovo e da galinha (II)”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. (p. 211)


[1] No original, “o ovo”.