quarta-feira, 31 de julho de 2013

viagens (da série: é preciso ter coragem de ser feliz)

ontem, fazendo faxina,
pensei que conheço muito pouco deste mundo - 
em termos de viagens:
só fui a um país estrangeiro
e sequer conheço todo o meu país!...
mas tenho feito incursões profundas 
no meu cotidiano -
o que me tem dado a graça de perceber
quão significativas são
as experiências 
mais simples:
cada vez que arrumo 
a casa,
lavo a louça ou a roupa
ou faço comida,
me reencontro comigo mesma.
posso dizer que esta tem sido
uma grande
viagem.
 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

citação (da série: mapas da alma...não sei que número)

"... caso não nos aconteça um milagre em qualquer dia de nossa vida, será simplesmente porque o teremos perdido de vista."
(rudolf steiner)

lua de julho (da série: é preciso ter coragem de ser feliz)

este ano me prometi um julho feliz.
e a lua de julho, me parece, não me contradiz:
anda pelo céu tão plena
que me faz esquecer toda as penas -
mesmo aquelas que eu sempre quis.
a lua de julho me chama pra vida
com a mesma intensidade
com que outras forças me chamam
pra morte.
(e a minha sorte
é só compreender 
que morte/vida
nada mais são
do que o verbo
ser...)

ó lua de julho,
brilha sobre mim
como boa bênção
sobre o alvorecer! 

quinta-feira, 18 de julho de 2013

morcegos (da série: os contraditórios são muito bem vindos!)

às vezes eu queria lhe dizer
para não ter mais medo.
nem de mim, nem de você,
nem de morcegos.
morcegos são medos que se pode nominar,
mas há medos mais profundos
que é importante dominar.
às vezes eu queria poder lhe ajudar
a descer do muro, da árvore
ou de qualquer outro alto onde você se encontrar.
não porque eu seja melhor que você:
somos a mesma, guardadas nossas singularidades.
e é por isso que não quero o seu mal:
querer isso é o mesmo que desejar
o meu mal.
o que eu quero, se posso querer,
é poder vê-la bem,
longe ou perto –
nem que nunca mais
a gente precise se rever.
porque este mundo, nesta dimensão, é um só.
e ele há de poder comportar
todos os nossos sentimentos e desejos,
se esses sentimentos e desejos
são, para além da nossa vaidade,
plenos do que nos liberta do medo
mediante a nossa vontade.

arroz atômico (da série: amores presentes)

quando faço arroz integral na panela de pressão,
sempre boto um peso
pra usar o mínimo de água,
com um mínimo de fogo
e ter um máximo na alimentação.

o resultado entre o que desejo
e o que consigo
é sempre fruto
de um fino equilíbrio
entre o meu estado,
a panela,
o fogo
e o que 
cozinho.

descobri que é assim
também na vida.
e que quando o fio dos afetos
enlinha,
é preciso cuidado redobrado
pra desenlinhar todas 
as linhas,
sob pena do amor
ser não mais a paz,
mas o que nos
espinha...

 

terça-feira, 9 de julho de 2013

medit.ação (da série: mapas da alma)

da minha janela eu vejo o tempo:
ora o céu azul, ora a chuva e o vento...
da minha janela eu adivinho o tempo
de tanto tempo observando
o que ele leva e traz
independente daquilo que me dá contento.
assim é.
assim paro.
contemplando o tempo da minha janela
assumo e reparo
os tempos da alma
— que outros não são
senão aqueles
para o que me
preparo.

tempos da alma (da série: "quero pisar firme porque estou seguro e não porque encobri meu medo")

eu me contento em ser teu porto seguro.
eu sei que para mim sempre voltas.
mas sei que não é para mim que voltas
porque eu, de mim, nunca te expulsei.
ao que voltas, quando voltas,
é para ti.
e por isso eu permaneço calma e aqui,
com o cuidado de quem pisa em terras estrangeiras:
porque sou um porto seguro também para mim,
a despeito das tuas voltas ligeiras...

segunda-feira, 8 de julho de 2013

apenas quando sendo... (da série: amores presentes)

...e porque somos tant@s em cada gesto
e porque cada gesto traz os gestos de toda humanidade
e porque toda humanidade é feita das muitas singularidades
e porque cada singularidade encerra em si a essência do universo,
eu me dirijo a ti
e te aceito como és
e me ofereço como sou.
sem máscaras nem medos,
posso enfim pronunciar a
palavra: amor.
porque a vida toda
e toda a morte que a perpassou
me trouxe até aqui:
pequena/grande
sábia/ignorante
palavra/mudez
plena/nudez.
e porque nada disso
diz de todo o risco
que corremos,
eu me entrego
ao que somos
e ao que ainda seremos:
sós
nós
na eterna tessitura
do que é
apenas
quando
sendo...