domingo, 10 de abril de 2016

medit.ação (da série: série nenhuma)

há dias tão longos

e tão plenos

que não me permitem sequer o momento 
 
da medit.ação.

esses são dias em que o próprio dia
 
é a oração.

mãe... pra que mesmo é serve? (da série: contos de parar o tempo)

a mania de por ordem em tudo já afastou muita gente. e ainda afasta. mesmo os filhos. também, pra que serve mãe depois que se cresce? talvez, de vez em quando, pra cuidar dos netos. ou pra escutar queixas de cansaço. quem sabe, pra compartilhar aquilo que ela tiver quando nada mais restar do que se esbanjou.
por ausência absoluta de mãe em quase toda a vida, não conseguia dar essa resposta...
daí ensaiou imaginar. pode ser que mãe sirva pra gastar seu tempo no que ela quiser, e não apenas no que é útil. oxalá mãe sirva pra realizar seus próprios sonhos, e não os de outrem. se se puder ser um pouco mais condescendente, talvez até mesmo mãe namore, case, separe, namore de novo ou escolha, à revelia do que impõe a ordem vigente, a solidão não como castigo, mas como boa companhia.
há quem diga que mãe serve mesmo quando não serve pra nada: mãe pode também ser cuidada. maioria absoluta continua achando que mãe é pra se dar presente no dia das mães ou nas festas de natal ou de aniversário... nada de tão vário.
poucos, porém, refletem. refletir é ato raro em tempo louco.
mas desses poucos, por fim, pode ser que um dia um expedicionário qualquer, numa escavação de antigas eras (entre drives, dvd's e restos de uma civilização cibernética) descubra que mãe foi um dia a origem de tudo. sem mães o mundo simplesmente não existiria. e que mesmo as mães que nunca serviram senão para nada além disso (ou seja, para dar à luz a alguém no mundo) são motivo de reverência e gratidão. esse ser futuro, nascido de si mesmo a partir de profunda inspiração, pode então recolher todas as lágrimas, toda a doação, toda a dor que as mães deixaram como adubo para um mundo onde não sejam mais de fato necessárias.