terça-feira, 25 de junho de 2013

a solidão dos gatos (da série: olhar atento)

a solidão dos gatos.
a solidão dos gatos me concerne.
me diz respeito.
essa solidão feita de cio e descanso
de manha e brincar
de parir, de comer, de amar.
sim, pois que a solidão dos gatos
é feita de um profundo amor
por seu canto
seu dono
seu lugar.
pra quem não sabe,
a solidão dos gatos
é plena de tudo quanto!...
por isso me encontro com ela
toda vez que um deles mia à porta:
a solidão dos gatos
(como muito pouca coisa neste mundo)
me comporta.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

terça-feira, 11 de junho de 2013

epifania (da série: poemas antigos)

tenho a sensação de que o mundo me lambe.
e é tão sensual e segura a sua língua
que todo o meu corpo estremece de prazer.
sob as maiores pressões, ainda assim
encontro tempo e espaço onde me deleitar.
e gozo, e me fortaleço, e desvaneço,
e vou, e volto, e olho, e esqueço...
assim é a sensação do mundo sobre mim.
feminino e masculino o mundo é.
desprovido de sexo até.
mas profundamente sedutor.
ele me atrai.
eu me dou.

citação (da série: mapas da alma 7)

"vitória nossa 
 

“o que temos feito e a isso considerado vitória nossa de cada dia.
não temos amado acima de todas as coisas. não temos aceito o que não se entende porque não queremos ser tolos. temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos, nem aos outros. não temos tido nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. temos construído catedrais e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos tememos sejam armadilhas. não nos temos entregue a nós mesmos pois isso seria o começo de uma vida larga e talvez sem consolo. temos evitado cair de joelhos diante do primeiro que por amor diga: tenho medo. temos organizado associações de pavor sorridente, onde se serve a bebida com soda. temos procurado salvar-nos, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de amor e ódio. temos mantido em segredo a nossa morte. temos disfarçado com amor nossa indiferença, disfarçado nossa indiferença com a angústia, disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior. não temos adorado, por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. não temos sido ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer ‘pelo menos não fui tolo’, e assim não chorarmos antes de apagar a luz. temos tido a certeza de que eu também e vocês também, e por isso todos sem saber se amam. temos sorrido em público do que não sorrimos quando ficamos sozinhos. temos chamado de fraqueza a nossa candura. temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. e a tudo isso temos considerado a vitória nossa de cada dia...”
(clarice lispector)

citação (da série: mapas da alma minha 2)

“é curioso como não sei dizer quem sou. quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. ou pelo menos o que me faz agir não é o que sinto mas o que eu digo. sinto quem sou e a impressão está alojada na parte alta do cérebro, nos lábios – na língua principalmente –, na superfície dos braços e também correndo dentro, bem dentro do meu corpo, mas onde, onde mesmo, eu não sei dizer.”