segunda-feira, 23 de setembro de 2019

da falta que a vizinha faz (da série: boa vizinhança)

… e amanheceu sem o som do liquidificador. 
e sem o som das vozes, e sem o som do motor. 
e sem o som do silêncio que ficava depois de toda a casa acordada sair. 
e sem a possibilidade de dizer: renatinhabielgael!benjaminmarcos!… 
tudo isso deixa na gente um imenso vácuo! 
foram tantos anos juntos que a gente parecia um grande conjunto 
― e agora faltam muitas presenças!… 
acho que por isso até adoeci, tentando elaborar essa ausência. 
acho que por isso até entristeci, mesmo sabendo que a lei da vida é a impermanência. 
porque é muito bom saber que num mundo tão fragmentado, 
a gente pode contar com a vizinhança do lado! 
e ver os meninos e meninas, filhos ou netos,
todos/as nascendo e crescendo num ambiente de afeto! 
ê mundo grande! 
ê vida! 
agora é tocar pra frente, que continua a lida! 
e “o que não voga é a preguiça de ser feliz, ou pelo menos tentar se encantar”, 
sabendo que a tianguá pode ser aqui e/ou em qualquer outro lugar! 
bien sûr!

terça-feira, 17 de setembro de 2019

De bom humor! (da série: gratidão!)

Vovó que eu mais amo!…aquilo ficou soando na minha cabeça, porque dito sem que eu esperasse. Sim, porque quando digo que tem que tomar o xarope de beterraba ou a água de limão com alho, ou que tem que comer uma fruta, ou que é hora do banho, hora de dormir, hora de acordar, hora de parar... vixe! Eu sou a bruxaimpiedosachata― e por aí vai! Mas quando já está tomado banho, depois de um dia intenso, e já se alimentou de tudo o que foi possível negociar entre o desejado e o necessário, quando já o quarto se apronta para recebê-lo às vezes com o pai, na maior parte com a mãe, às vezes comigo mesma e o cenário é o de um conto (de fadas e não raro bem cruel, como o são os de Grimm originais) ou de uma música tocada ao violão (que ele pede cantada e eu faço, à sua distração por vezes, instrumental), aí é como se o anjo invocado na reza (meu anjo da guarda/meu bom guardador/guardai minha alma/pra nosso senhor/menino jesus cristinho/rogai por nós, amém) de fato acorresse ― e o menino se transformasse e me surpreendesse com esse: Vovó que eu mais amo! Nada que me iluda, pois a vó mais amada é sempre a que está mais perto, mas em meio a tanta agrura de que se tem notícia em tempos sombrios, eu rio e agradeço e reverencio o que o gesto e a fala me indicam: os deuses (e as deusas!) estão de bom humor! Evoé!