segunda-feira, 31 de julho de 2017

"mudai vossa disposição anímica" (da série: é preciso ter coragem)

os filhos, as filhas, as crianças todas têm o direito de decidir o que querem fazer.
às vezes meu neto me diz: eu faço tudo o que eu quiser e na minha ignorância, melhor, na minha conheçença de pessoa que foi educada aprendendo a temer, isso me soa quase (e olhe que eu escuto atentamente, tentando excluir minha própria opinião do perceber) um desaforo.
e por quê?
ora, não é difícil adivinhar.
o medo ensina que manda quem pode e obedece quem tem juízo. menino não tem juízo. mas é ensinado a ter, antes da hora, por quem, também tendo aprendido a crescer antes do tempo, não sabe ensinar outra coisa.
minha sorte é a de ler sempre e muito, e não só os livros... e a de desconfiar de tudo o que já aprendi, sempre e muito. de modo que se algo me parece certo demais, seja pelo costume, seja pela preguiça, já questiono: isso deve ter uma outra possibilidade. e com o neto, toda vez que me deparo tendo razão (essa palavra que em muito se assemelha a outra morte , na medida em que em seu nome se ceifa todo o pulsar da vida), diante de algo feito ou dito por ele, já desconfio. e mesmo que me doa, eu dou a ele a possibilidade de ser quem tem razão, mesmo que o que faça ou diga pareça, aos meus olhos, despropositado. isso tem me feito ganhar sua admiração o que não é pouca coisa. aos olhos das pessoas várias que estão em nosso entorno pareço, com o perdão da palavra, uma abestada. não ligo. mas sempre que posso, e a situação permite, dou-me ao trabalho de compartilhar o porquê de minhas atitudes. e quando de fato me falta paciência com o pequeno o que nada tem a ver com ele, diga-se de passagem, cujo impulso é apenas criar criar criar ―, lembro de tudo que li, de todos os mais sábios, mais venerados, mais sensatos pensamentos, sentimentos, ações e palavras, e quando menos espero me deparo com uma saída também criativa para o que ele me propõe. às vezes o simples expressar de meus sentimentos já o toca tanto e verdadeiramente que é capaz de mudar o curso de um evento. porque as crianças sabem o que de fato deve ser feito, mas estão num contexto tão às avessas que, ao tentar se expressar, esbarram em todas as mesquinhas soluções que nós não paramos mais para questionar.
eu sou muito grata por ter netos que todos os dias me lembram que eu tenho muito o que aprender e mudar. mudar minha disposição anímica. porque sem isso, não há, nunca haverá revolução alguma. a revolução é esta: mudar a disposição anímica. sem isso, não é possível o respeito à infância o que vale dizer, ao mundo, à vida neste planeta, e a todo o futuro que nos espera. futuro esse não como algo indecifrável que vai cair de paraquedas um dia, mas aquele que nós construímos em cada ato/palavra/sentir e pensamento aqui e agora, no presente momento em que lidamos com cada filho ou filha, com cada criança.