quarta-feira, 22 de agosto de 2012

meu escritório é na rua (da série: é preciso ter coragem de ser feliz)


meu escritório é na rua
meus companheiros, os gatos
quem me conta coisas é o vento
quem me cobra é o próprio trabalho


que trabalho, por sinal, é tudo:
o respirar
o varrer
o digerir
o lavar
(cumprimentar os vizinhos)
o pensar
 o escolher
o ser feliz
(o se esquecer um pouquinho)
o ter preocupações
ou o divagar

(apesar de haver,
e há!,
os relatórios muitos por fazer
enquanto a vida teima em me chamar...)

meu escritório é na rua
de frente pro verde que me atravessa
em meio ao cimento erguido e à pressa
dos que passam (e não me notam)
imersos na sua luta,
imensa.

(fazendo relatórios na área da casinha na tianguá, 779)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

do inusitado (da série: é preciso ter coragem de ser feliz)

um guarda-sol.
e do sertão da bahia 
à praia do futuro,
um furo:
em dia de iemanjá,
tudo cabe - 
até o absurdo
de se ver o furtado
retratando
o furto.

mas bonito mesmo
é o povo.
no sertão
ou no mar,
não há inusitado
que me faça reclamar:
eu vejo a vida
e a vejo bela -
e tudo enquanto
possa me encantar.