quarta-feira, 24 de abril de 2013

dia de chuva (da série: é preciso ter coragem de ser feliz)

quem sabe, quando eu nascer de novo
— em outra situação astrológica,
talvez até em outro planeta como sítio —,
eu possa ter o entusiasmo que admiro
num temperamento forte que contemplo
(com certeza será um outro tempo).
por ora sigo sendo melancólica
(as condições meteorológicas mo incitam [rs]).

mas com matéria outra
(num outro tempo, insisto),
com outros corpos,
outras aberturas,
serei, quem sabe, alegre criatura.
por ora, sigo apenas.
sem mais senões, esperas ou penas
que a de ser tão somente melancólica
— mas não mais estar triste em cena.

(foto de fefê - a gata fenestra, feita por carla rebouças)

sexta-feira, 19 de abril de 2013



quando estou doente e me sinto traída
(não importa se fui ou não),
faço um trabalhinho
que muito me exige em ação:
imagino como a melhor pessoa do mundo
aquela que me traiu —
indo contra tudo que aprendi
num mundo que já ruiu:
mergulho com meu eu no seu eu
e faço minhas suas aflições;
trato suas feridas como minhas,
acolho suas dores como filhas,
embalo seus horrores como meus.

então não há mais divisão
nem necessidade de pecado ou perdão.
volto a cuidar do meu jardim,
faço adubo das mágoas e rancor —
e rezo pra que a chuva do amor
caia de novo sobre mim.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

intertexto (da série: os contraditórios são muito bem vindos)

o tempo constrói
o tempo desfaz
o tempo corrói
o tempo refaz

nada como
tempo tempo tempo
nada como a brisa leve
e o leve vento!
(foto: carla rebouças)

sexta-feira, 5 de abril de 2013

romã (da série: é preciso ter coragem de ser feliz)

quando na manhã
o sol surgiu e a luz entrou
colhi o fruto do que um dia se plantou:
romã.

e estava tão aberto!...
estava tão à mão
que nada mais incerto
sentiu meu coração.

colhi o fruto, então
comi seu cerne.
senti: de tudo quão
algo nos serve.

possa eu um dia
como a romã
servir, ser vida:
amor [plantar], [colher] manhãs.

(foto carla rebouças)