domingo, 12 de março de 2023

domingo, 21 de novembro de 2021


 preto,
quando a gente quer
mas não sabe pra onde correr,
um bom jeito
é se socorrer
naquilo que não vai ceder
nem que a vaca tussa,
nem que o gato espirre,
nem que a galinha chore!
um bom jeito
é não tresvariar nem temer!
um bom jeito
é se re.organizar pra valer!
um bom jeito...
ora, quem sou eu
pra dizer pra um filho de Exu
um bom jeito?
eu me aquieto 
e te imagino calmo:
esse é, talvez,
um bom jeito!

axé, preto!
[no domingo seguinte à tua entrada no terreiro, 
depois de uma lua cheia e de um eclipse]


terça-feira, 16 de novembro de 2021


 então, preto,
enquanto tu vai fazer teu santo,
fico eu cá com os teus santos!
e pense em quão santos são!...
mas eu bem que agradeço:
são um pouco de ti!
que dei de novamente sentir
aquela saudade antiga
quando era tu no iguatu
e eu na lida.
e choro, preto,
como se tu fosse ainda meu menino longe.
acho que é porque o homem em ti
foi buscar em si o que sempre esteve nesse horizonte:
o encontro consigo,
com o Eu,
com o Cristo em si.
que seja bom, preto,
conquanto o tanto!
que seja como
uma boa roda de choro,
um pão feito em casa,
como as boas amizades,
como o Amor,
como a própria saudade
quando sabe o sentido
de ser de cada coisa -
e koisa
e koisa
e koisa
e koisa
e tao!
e koisa
e koisa
e koisa
e koisa
e mel!
axé, meu preto!
[da casinha DaPonte, nesse 1o dia de teu retiro]

domingo, 14 de fevereiro de 2021

balora (da série: das transformações que só a vida faz!)

nunca pensei gostar de cachorro

menos ainda, de uma cachorra!

seu nome é balora

(e por favor, não pronuncie aberto:

meu neto é capaz de virar seu desafeto!...)

 

pois, mas me encanto com esta traquina

que a seu modo parece uma felina.

talvez seja mesmo por isso

que firmamos esse compromisso:

eu deixo de pensar que não gosto de cachorro

e ela só late em urgências ou situação de socorro.

 

... e assim vamos indo:

eu olhando pra ela e achando lindo

no silêncio dessa tarde em que a pele arde

o barulho surdo de um carnaval sem folia

por conta de uma pandemia. 



(da casinha daponte/domingo de carnaval de 2021)



quinta-feira, 26 de março de 2020

2m x 2m [dois por dois] (da série: quando os deuses nos dão folga)




já fui bastante “solta” no mundo

em nenhum lugar parava muito tempo

depois vieram renovados ventos

e num lugar um mergulho profundo



um dia, foi a despedida

desse lugar tive que sair

foi chorar, sofrer, pedra que sente o cair

e então ressignificar o que são chegadas e saídas…



hoje estou num 2m x 2m

que a princípio pareceu minúsculo

ele de fato era ou eu não tinha músculo

pra compreender a esfera que vem depois do depois?…



não sei. quem saberá?

sei é que o mundo todo cabe aqui:

o trabalho, a espiritualidade, a música, a família, as amizades, o amor, o ki

— e infinito que houver, onde eu estiver, caberá!





(Da casinha da Vila,
em meio a sei-lá-que-dia de quarentena,
aos 25.março.2020)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

da delicadeza (da série: é preciso coragem coragem coragem!)



o que dizer?
quando dizer?
como dizer?
o que é ser?

o que manter?
o que ceder?
o que poder?
o que é ter?

como na linguagem,
nem tudo que parece ser, é.
é preciso coragem
pra saber ler o que não está sendo dito, mas se quer ―

que a delicadeza do beija-flor
não é que a flor lhe peça o beijo:
ele o dá apenas, por amor!