terça-feira, 31 de janeiro de 2012

da série - é preciso ter coragem de ser feliz (a doação que atravessa...)


ai, a sensação do mar em mim
do que dá medo e atrai
do que é imenso - vem, vai
do que existe sem que se veja
do que se espraia e não se esvai...

ai, a sensação do mar em mim
correntes que me atravessam
ventos que me dispersam
ilhas dentro do ser
monstros que nem prevejo
sonhos em que antevejo
o abismo de crescer...

ai, a sensação do mar em mim
tudo o que se dilata
tudo o que se difunde
tudo o que me confunde
nesse mar de amor em mim
nada que não me peça
a doação que atravessa
saber-se do início... ao fim!
(dedicado à moça que tem medo mas não deixa de se integrar com o mar)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

da série amores vividos - advérbios

quando quero me aperrear
pensando no fim do amor,
lembro que "nunca" é tempo demais
- e que "sempre" pode ser
simplesmente
agora...

batalha de egos

 quando o amor acaba
- ou a ideia do amor acaba -
às vezes o que fica
é uma batalha de egos...
aí o melhor é recolher
as armas,
os planos,
e esperar que o tempo
acalme as dores
e as perdas e danos.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

citação (a propósito do pensamento de Jung)

 "(...) o inconsciente e o consciente existem num estado profundo de interdependência recíproca e o bem-estar de um é impossível sem o bem-estar do outro. Se alguma vez a conexão entre esses dois grandes estados de ser for diminuída ou danificada, o homem ficará doente e despojado de significação; se o fluxo entre um e outro for interrompido por muito tempo, o espírito e a vida humana na Terra serão mergulhados no caos e na velha noite. Para ele [Jung], por conseguinte, a consciência não é, como acreditam, por exemplo, os positivistas lógicos do nosso tempo, um simples estado de mente e espírito intelectual e racional. Não é alguma coisa que dependa exclusivamente da capacidade do homem para a articulação, como sustentam algumas escolas de filosofia moderna, a ponto de afirmar que o que não puder ser articulado verbal e racionalmente não tem sentido e não é digno de expressão. Pelo contrário, ele provou empiricamente que a consciência não é apenas um processo racional e que o homem moderno, precisamente, está doente e destituído de significação porque, por séculos desde a Renascença, perseguiu cada vez mais um desenvolvimento enviesado no pressuposto de que a consciência e os poderes da razão são a mesmíssima coisa. E se alguém achar que isso é exagero, é só lembrar do 'Penso, logo existo!' de Descartes (...)."
(texto de Laurens van der Post retirado de Jung e o Tarô - uma jornada arquetípica de Sallie Nichols)

sábado, 7 de janeiro de 2012

da série - é preciso ter coragem de ser feliz (o poder da criação)

acordei com vontade de me revoltar:
o mundo me pareceu injusto,
quis me injuriar...

antes de me revoltar, porém,
resolvi meditar:
nada acontece de graça,
quem esquece das leis
é que pensa que há trapaça...

resolvi começar de novo
e o mundo ganhou outro contorno:
se o que há, sou eu quem cria,
vou plantar pra ver no que dá
muito mais 
música amor e poesia!


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

sob o sol em capricórnio

que sonhos sonha
num clube da esquina
a de alma profunda
e corpo de menina?

que humores passeiam
pela pele fina?
que sábios permeiam
sua adrenalina?

que ruas seus passos
percorrem sem fim?
que corpos, que espaços
habitam seu sim?

que, enfim, solidões
sucedem-na ainda
que entre paixões
a tornam tão linda?...
 
 

domingo, 1 de janeiro de 2012

da série - é preciso ter coragem de ser feliz ("não tem preço")

não tem preço, no primeiro dia do ano,
fazer o trajeto vila união/praia do futuro/vila união de bike, a despeito da farra da noite anterior.
não tem preço pedir que a maré esteja baixa
e encontrar uns dez metros de maré baixa (e pensar: vixe, maria, a gente tem que ter cuidado com os desejos...).
não tem preço andar por mais de uma hora na praia
e ver tanta gente feliz, se encontrando com o sol, com o mar e com seu próprio corpo de forma tão despojada.
não tem preço errar o cálculo numa passagem de trilho, escorregar e cair na direção da pista -
e não ser atropelada.
não tem preço passar na baiana da beira mar 
e comprar o primeiro acarajé do ano (seu e d@s amad@s que ficaram em casa - e negociar deles irem lhe encontrar pra entregar o presente).
não tem preço rumar pro espigão 
e chegar a tempo de ver um sol lindo se pondo - e mais gente sendo feliz, num entra-e-sai sem fim onde "só é permitido aos operários"...
não tem preço ser acudida pel@s amad@s de casa em pleno espigão
e, de quebra, receber os primeiros socorros no joelho esfolado da mãe do seu futuro neto ou neta e o carinho do filho adotivo, do vizinho músico e de um quase filho que foi casado com a ninoca pipoca.
não tem preço continuar o trajeto (a despeito dos protestos d@s amad@s, que vieram com o suporte da bike pra levar você de volta de carro) e ir dar na casa da tia,
rir com o primo doidinho (aquele do biscoito de chocolate), passear pelas dezenas de canais da tv (sabendo que pra quem não tem tv, ver tv na casa alheia pode ser ótimo programa) - até parar pra assistir um filme que você sempre quis e ainda não viu.
não tem preço voltar pra casa já tarde da noite
e um taxista lhe fazer a gentileza de dar passagem ao perceber que muito embora você tenha coragem de andar de bicicleta àquela hora numa cidade vazia, nem por isso o fantasma do medo deixa de lhe rondar...
não tem preço chegar em casa e encontrar os gatinhos, os filhos, a nora, uma cerveja e um "churry" lhe esperando.
não tem preço transformar a poesia do dia em escrito
e compartilhá-lha com quem se dispõe a ler.
(acho que é por isso que é preciso ter coragem de ser feliz - o que também não tem preço).
(foto antiga, à falta de uma nova...)