segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

da série - amores vividos (o tempo de aprender)

tem uma hora que, de tanto doer, a dor já não dói mais.
e o que fica tem um gosto de vazio tão grande, que às vezes até se pede que a dor volte só pra ter algo naquele lugar.
mas a dor não volta. nem o amor volta. porque amor é a coisa mais de graça que há. e quando não há, não há.
então só resta olhar pra aquilo que ficou.
e o que ficou, quando não é terra arrasada, é bem parecido: os sonhos fora de lugar, o cotidiano em rebuliço, o conhecido todo destruído, as palavras ditas desacreditas, a certeza de si posta em xeque.
aí, como quando se tem que reconstruir um lugar depois de uma guerra, é começar a sanear o terreno, limpar, retirar os escombros, ver o que sobrou - e recomeçar.
não se pode dizer que seja um trabalho fácil.
porém é menos dolorido do que só chorar os mortos.
os mortos, é preciso enterrar.
na vida dos sentimentos é assim: há que enterrar o que morreu.
pode-se fazer todo o luto necessário, mas não se pode enterrar-se junto com o que se foi.
porque a vida pulsa, e pede, e é bonita mesmo quando tudo em volta parece que acabou.
o vazio, então, é como o ponto em que se pára de chorar os mortos e se começa a reconstruir os sonhos.
que de início são simples, tão simples, que nem se pode crer sejam sonhos: comer com gosto, dormir sem sobressalto, acordar bem, se sentir em paz consigo e com o mundo. nada de mirabolante: o prosaico, o comum, aqui ganham vez.
e de sonho em sonho, de ação em ação, uma hora a dor pára de doer.
não porque não esteja mais lá, mas porque você já não lhe devota toda a sua atenção.
é curioso: magra desse alimento, ela definha tanto que tem hora que você pensa que ela se foi.
mas ela continua ali, só esperando a hora de renascer.
porque essa dor, mais do que a dor de qualquer final de amor, é a própria dor de viver.
e como tudo na vida, uma hora ela vai, uma hora ela vem.
a gente, o que pode fazer, é saber recebê-la, se possível bem, pra que ela passe com a gente só o justo tempo de aprender.

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