os
filhos, as filhas, as crianças todas têm o direito de decidir o que
querem fazer.
às
vezes meu neto me diz: eu faço tudo o que eu quiser ―
e na minha ignorância, melhor, na minha conheçença de pessoa que
foi educada aprendendo a temer, isso me soa quase (e olhe que eu
escuto atentamente, tentando excluir minha própria opinião do
perceber) um desaforo.
e
por quê?
ora,
não é difícil adivinhar.
o
medo ensina que manda quem pode ―
e
obedece quem tem juízo. menino não tem juízo. mas é ensinado a
ter, antes da hora, por quem, também tendo aprendido a crescer antes
do tempo, não sabe ensinar outra coisa.
minha
sorte é a de ler sempre ―
e
muito, e
não só os livros...
―
e
a de desconfiar de tudo o que já aprendi, sempre ―
e
muito. de modo que se algo me parece certo demais, seja pelo costume,
seja pela preguiça, já questiono: isso deve ter uma outra
possibilidade. e com o neto, toda vez que me deparo tendo razão
(essa palavra que em muito se assemelha a outra ―
morte
―,
na medida em que em
seu nome se
ceifa todo o pulsar da vida), diante de algo feito ou dito por ele, já
desconfio. e mesmo que me doa, eu dou a ele a possibilidade de ser
quem tem razão, mesmo que o que faça ou diga pareça, aos meus
olhos, despropositado. isso tem me feito ganhar sua admiração ―
o
que não é pouca coisa. aos olhos das pessoas várias que estão em nosso entorno pareço, com o
perdão da palavra, uma abestada. não ligo. mas sempre que posso, e
a situação permite, dou-me ao trabalho de compartilhar o porquê de
minhas atitudes. e quando de fato me falta paciência com
o pequeno ―
o
que nada tem a ver com ele,
diga-se
de passagem,
cujo impulso é apenas criar criar criar ―,
lembro
de tudo que li, de todos os mais sábios, mais venerados, mais
sensatos pensamentos, sentimentos, ações e palavras, e quando menos espero me deparo com uma saída também criativa para o que ele me propõe.
às vezes o simples expressar de meus sentimentos já o toca tanto e
verdadeiramente que é capaz de mudar o curso de um evento. porque as
crianças sabem o que de fato deve ser feito, mas estão num contexto
tão às avessas que, ao tentar se expressar, esbarram em todas as
mesquinhas soluções que nós não paramos mais para questionar.
eu
sou muito grata por ter netos que todos os dias me lembram que eu
tenho muito o que aprender ―
e
mudar. mudar minha disposição anímica. porque sem isso, não há,
nunca haverá revolução alguma. a revolução é esta: mudar a
disposição anímica. sem isso, não é possível o respeito à
infância ―
o
que vale dizer, ao mundo, à vida neste planeta, e a todo o futuro
que nos espera. futuro
esse
não como algo indecifrável que vai cair de paraquedas um dia, mas aquele
que nós construímos em cada ato/palavra/sentir e pensamento aqui
e agora, no presente momento em que lidamos com cada filho ou filha,
com cada criança.
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