no
dia dos teus anos,
fiquei
eu pensando
com
o que te presentear.
em
tempos em que há escassez
―
não do essencial mas daquilo
com
que geralmente compramos
aquilo
que também geralmente é o que presenteamos ―,
vi-me
instada a encontrar,
por
isso mesmo (e não a esmo),
um
outro modo de te reverenciar.
em
silêncio e sob um céu azul,
tendo
já andado e de chuva muita me molhado,
desejei
que a imensidão
do
que não se pode medir em humana medida
possa
para todo o sempre habitar-te, e ser tua guarida.
e,
lembrando dos sonhos
em
que comumente voavas,
desejei
que a fluidez
não
te roube o peso nem a tez
daquilo
que às vezes menoscabas:
o
trabalho na terra
não
prescinde do infinito,
mas
nem por isso nele se encerra
ou
abdica do que seja definido.
tendo,
então, o equilíbrio
necessário
entre
o sonho e o real,
desejei-te
saber transformar
em
bem todo o
mal.
e
conhecer as leis,
mas
não somente as da matéria:
as
espirituais
é que são os nossos reis
e o que lança luz sobre as nossas trevas.
por
fim, desejei-te aquilo
que
tu mesmo desejas:
uma
casa, um trabalho,
a
intimidade das amantes,
o
amor de todos os seres
― e
tudo o mais quanto,
sem
exagero, for possível teres.
e
que quando chegar a velhice,
continues
com o espírito jovem
e
dada a traquinices.
e
que teus braços, sempre abertos,
possam
acolher todos
os
netos!
(isso
o que pude te dar
quando
nada tenho a te ofertar...)