ah,
que as sempre muitas questões nos afligindo!...
pois
se tristeza é uma forma de, já fui muito preguiçosa.
sentia
tristeza de monte, tantão!
acho
que depois da infância, e sobretudo da morte da mãe, tristeza podia
ser um outro jeito de me chamar.
pa-ra-do-xal-mente,
porém, ou ao menos para quem menos me conhecia, essa tristeza não
aparecia. no seu lugar – e talvez por necessidade mais do que por
cálculo – o que vinha era o impulso de seguir, quase como um boi
numa boiada em que perigo seria parar.
de
uns tempos pra cá, no entanto, mudei. não da noite pro dia, nem do
vinho para a água. mudei de vontade de ser. e mesmo à custa de mim:
os perrengues que me causam ter me voltado mais em direção a isso
que é só um florescer têm me aprontado.
sinto-me,
contudo, mais sólida. não no sentido da frase: “tudo o que é
sólido desmancha no ar”, mas justamente por sempre ter sido mais o
ar e mesmo a água em mim, sentir-me sólida nada tem a ver com
dureza, mas com o seu desfazimento.
nossa,
nem sei como alguém me pôde amar antes de eu ser eu como sou agora.
e nem que esteja no ponto (rs). mas ter abdicado da tristeza como
condição deu-me tantas possibilidades – mesmo que eu ainda mal
possa me mexer – que!...
nisso,
a gratidão chega-me mais facilmente, as raivas se desfazem quase que
como consequência, e as mágoas – essas, bem, essas más águas
têm perdido sua qualidade de veneno e adquirido fluidez. de
estagnadas, começam por emanar vida.
e
é tão rico tudo isso, que chego a pensar que a tristeza deve ser
mesmo uma forma de preguiça. agora dei de exercitar-me todo dia!