segunda-feira, 22 de agosto de 2016

tristeza é uma forma de preguiça? (da série: das coisas novas em mim)

ah, que as sempre muitas questões nos afligindo!...
pois se tristeza é uma forma de, já fui muito preguiçosa.
sentia tristeza de monte, tantão!
acho que depois da infância, e sobretudo da morte da mãe, tristeza podia ser um outro jeito de me chamar.
pa-ra-do-xal-mente, porém, ou ao menos para quem menos me conhecia, essa tristeza não aparecia. no seu lugar – e talvez por necessidade mais do que por cálculo – o que vinha era o impulso de seguir, quase como um boi numa boiada em que perigo seria parar.
de uns tempos pra cá, no entanto, mudei. não da noite pro dia, nem do vinho para a água. mudei de vontade de ser. e mesmo à custa de mim: os perrengues que me causam ter me voltado mais em direção a isso que é só um florescer têm me aprontado.
sinto-me, contudo, mais sólida. não no sentido da frase: “tudo o que é sólido desmancha no ar”, mas justamente por sempre ter sido mais o ar e mesmo a água em mim, sentir-me sólida nada tem a ver com dureza, mas com o seu desfazimento.
nossa, nem sei como alguém me pôde amar antes de eu ser eu como sou agora. e nem que esteja no ponto (rs). mas ter abdicado da tristeza como condição deu-me tantas possibilidades – mesmo que eu ainda mal possa me mexer – que!...
nisso, a gratidão chega-me mais facilmente, as raivas se desfazem quase que como consequência, e as mágoas – essas, bem, essas más águas têm perdido sua qualidade de veneno e adquirido fluidez. de estagnadas, começam por emanar vida.
e é tão rico tudo isso, que chego a pensar que a tristeza deve ser mesmo uma forma de preguiça. agora dei de exercitar-me todo dia!