sexta-feira, 15 de julho de 2016

amor (da série: contos de parar o tempo)


com 35 anos te conheci. estava no vigor dos meus anos. tudo me parecia possível. trabalhava com crianças ― e de muita gente adulta ainda não tinha dó, como tenho hoje, em que sobra em compaixão o que àquela época me faltava em paciência.
paciência.
aprendi contigo a paciência.
a paciência dos ursos em hibernação.
a paciências dos índios em plena ação.
a paciência das baleias em gestação.
sim, contigo aprendi a paciência.
aquela que não tiveste comigo, quando mais dela precisei.
mas de tudo fica um bom.
o bom de teres me deixado foi que a mim mesma pude reencontrar,
não facilmente, mas antes que a morte me chegasse, como um dia vai chegar.
e disso tenho tirado proveito.
assim: me experimento de formas nunca antes desejadas.
tenho tido lampejos!
tenho feito de mim algo um pouco mais leve do que aquilo que te impus.
só lamento que a distância tenha nos deixado quase imunes uma à outra.
gosto (do verbo gostar) do gosto (substantivo) do amor.
gosto do amor, mesmo quando ele me vira as costas.