quinta-feira, 15 de outubro de 2015

milagres (da série: ehprecisotercoragemdeserfeliz...sempre!)

eu vejo milagres todos os dias.
milagres que ninguém vê.
eu vejo porque me abri à possibilidade de ver
e não só porque haja nisso uma alegria.

eu vejo milagres de repente, alhures,
aqui, ali e além.
eu vejo porque vejo mais do que eles contêm
e não só por crer (ainda que crer seja algo que por si já tudo mude).

eu vejo milagres e milagres e milagres
e milhares de milagres! mesmo que o mundo acabe.
eu vejo milagres porque sou eu mesma um deles:
talvez o maior, o melhor, o supimpa
mesmo sendo um mero, um nada, um reles...

(dedicado ao que abriga a casinha tianguá em todos os tempos, em todos os sonhos, em todos os lugares)

terça-feira, 6 de outubro de 2015

oferecida (da série: amores vizinhos)

ter a natureza perto de si
- ou, por outra, poder colocar-se próximo à natureza -
é, mais que um dom,
uma graça.

ontem a empregada de renatinha, a vizinha,
me deu um buquê de flores.
mirian é seu nome.

e de tal modo as flores
se fizeram presentes
que todos na casa
ficaram alegres
só com o
estar
nessa
proximidade.

grata sou, então,
pela graça
de renatinha ter como empregada
uma mirian
que me lembra que o mundo é,
mais do que a minha própria casa,
uma construção
muito
delicada.

quanto às flores
(aqui próximas,
me olhando,
enquanto teço
esta página),
elas são a própria
graça:
oferecida.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

poemeto surgido à hora (de uma faxina, claro!) (da série: é preciso ter coragem de ser feliz!)

me compadeço
de quem ainda não descobriu
o bom do trabalho reprodutivo:
me compadeço
porque deixa de aprender
um tanto de coisa do campo afetivo.
me compadeço de quem
toma o público como meta:
não aprendeu ainda o quanto é bom
não ser nem alvo nem seta.
me compadeço,
me compadeço mas sigo.
quem puder, e quiser, que me acompanhe
(ou pare).